Bom dia!

Volta e meia a vida nos encarrega do pesado fardo de avisar ao colega que ele tem couve nos dentes ou que o zíper da calça está aberto. Que não recebam mal o alerta, porque a intenção é das melhores: evitar um sorriso cômico ou um passarinho fugindo da gaiola. Longe de querer ser uma Glória Kalil, alguém precisa avisar sobre uma casca de feijão virtual nos dentes de alguns amigos.

Vamos lá. Não se zangue comigo, querido interlocutor, mas evitando o constrangimento de um sem-número de pessoas, vou assumir o fardo de te contar que boa parte da população usuária de WhatsApp não gosta, ou, no mínimo, ignora, aquele tipo de mensagem que você seleciona toda sua lista de contatos e envia. Dentre tais mensagens, o tipo clássico, o “Casablanca” das mensagens em série, é a de bom dia; invariavelmente acompanhada de alguma frase de força, resiliência, elogio ou incentivo e uma imagem bonitinha de fundo. Vou te dar uma evidência do que digo: abra a caixa de conversa com alguns dos destinatários de seus ‘bom-dias’ e verifique quantas mensagens desse tipo não são respondidas. Viu?

É claro que, todo mundo sabe, a sua intenção é das melhores. Naquele momento você só almeja distribuir um pouco de gentileza a este mundo cinzento e frio. Por outro lado, frequentemente, recebemos a mensagem mais de uma vez; fora quando o mesmo contato te manda a mensagem na conversa privada, no grupo da família, no grupo de amigos, no subgrupo de algum evento… O efeito alcançado acaba sendo o seguinte: parece que alguém surge no seu quarto, entrega um panfleto e vai embora sem falar nada. E volta no dia seguinte. E no outro. E no outro.

Um dia você vai limpar o quarto e tem dezenas de panfletos pra dar fim. Mas, como não quero deixar ninguém sem alternativas, porque não enviar algo mais pessoal, em intervalos razoáveis? Por exemplo, envie: “bom dia, querido familiar Eustácio, lembrei-me de sua vetusta pessoa e brindo aos céus por sua existência. Passar bem. Ass.: Tia Mirtes”. O bendito do Eustácio ficará muito mais feliz com uma mensagem dedicada a ele, ainda que uma vez no mês, do que recebendo a mesma mensagem que todo mundo, todos os dias. Certamente, aquela mensagem ele te responderá.

E já que pulamos de cabeça no precipício para dar esse alerta, vale a pena avançar e deixar todo mundo advertido sobre as variantes do “bom dia”. Boa tarde. Boa noite. Feliz Natal. Feliz 2018. Não nos esqueçamos das correntes; das piadas dos tempos do onça (que caíram em desuso, misteriosamente, até o advento do WhatsApp, e agora estão sendo contadas como novas); vídeos fora de contexto; notícias falsas; felicitações por feriados e datas históricas.

E quem tiver olhos de ler, que leia: no Facebook, se você clica em ‘compartilhar’ mais de dez vezes no mesmo dia, é bem provável que algumas pessoas tenham deixado de te seguir (estou sendo generoso sobre as dez vezes). Porque veja bem, se você compartilha duas ou três publicações, a provável reação de seus amigos é: “olha lá, o Alberto compartilhou algo, vamos ver o que é”. Se você compartilha dez: “Putz, lá vem mais outra do Alberto, parece que só dá ele na linha do tempo do Face”. Em tempo: Tios-avós, PAREM DE COMPARTILHAR FOTOS PESSOAIS DOS SOBRINHOS NETOS! Uma curtida e um comentário “está linda, como está sua avó? Seu pai melhorou da diarreia?” já está de bom tamanho. Não precisa compartilhar.

Não levem a mal. Levem como alguém avisando que o desodorante está vencido. É pro seu bem! Você vai ser mais querido entre boa parte do seu WhatsApp. E nada impede que continue mandando os bom dias a quem gosta — geralmente é quem te responde com outro bom-dia-de-imagem-e-frase. É que além de tudo, ano que vem tem eleição, e ninguém vai aguentar a quantidade descomunal de mensagens enviadas a todos contatos da lista.

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